Nem mais um morto nas estradas portuguesas

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Diminuir a sinistralidade nas estradas, agravar sanções e aumentar a fiscalização. Estes são os objetivos das novas regras sobre segurança rodoviária que foram notícia no início do ano devido à transposição de legislação europeia.

Há muitas regras novas, mas poucas foram as medidas pensadas para incentivar e melhorar a perceção de risco dos utilizadores das vias públicas em Portugal. É praticamente inexistente a preocupação, por exemplo, em garantir uma formação de qualidade aos jovens enquanto peões, em fazer de sensibilização ou formação continua aos condutores supostamente experientes ou em melhorar a qualidade de formação dos condutores nas escolas de condução. Atualmente, estas só se preocupam com a sua própria sobrevivência, num setor com uma concorrência extrema baseada em baixo preço.

No imediato os resultados são verdadeiramente catastróficos.

Segundo a última informação periódica de sinistralidade rodoviária colocada no site da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a análise estatística que compara o número de vítimas mortais nas estradas do nosso país revela um aumento de 449 em 2016 para 510 em 2017. Isso, só por si, representa um aumento de cerca de 14% no número de vítimas, o que deverá ser suficiente para nos fazer refletir se a abordagem ao problema está a ser a mais adequada.

 

Acidentes de trajeto

No dia em que escrevo este artigo deparei-me mais uma vez com a notícia de um acidente rodoviário. Desta feita, uma carrinha de transporte de trabalhadores despistou-se na sua deslocação a caminho da empresa tendo como consequência um morto e sete feridos graves e ligeiros.

É certo, apesar de infelizmente não existirem estudos que revelem números concretos, que uma grande parte dos quilómetros efetuados em automóvel em Portugal diz respeito a deslocações de e para o trabalho ou a deslocações por força da própria função profissional, que muitas vezes obriga a realizar tantos ou mais quilómetros ao volante do que um verdadeiro motorista profissional.

Este tipo de acidente é tipificado pela legislação nacional como acidente de trabalho através da lei 98/2009 enquanto acidente de trajeto, ou in itinere.

Existe também responsabilidade por parte das empresas? Claro que sim…

Seja na conceção de planos que implementem uma cultura de segurança rodoviária, seja através da criação de momentos de reflexão ou do desenvolvimento de formação específica, é importante consciencializar e proteger os colaboradores desse tipo de perigos e riscos. Podem até ser impostas regras concretas no que respeita, por exemplo, à não utilização do telemóvel durante a condução ou ao cumprimento dos limites de velocidade nos vários tipos de vias, levando a uma diminuição da sinistralidade e a uma redução de custos operacionais.

Certo será que obriga também a uma maior exigência e rigor na organização do trabalho, mas esse será o objetivo natural de qualquer organização que pretende evoluir nos dias de hoje.

 

A segurança rodoviária nas empresas

Qualquer responsável pela área de Higiene e Segurança de uma organização sabe que o perigo é indissociável da vida de qualquer um de nós, mas que a análise dos riscos inerentes depende da probabilidade de ocorrer e da sua consequência. Sabe também que só se diminui a probabilidade com prevenção e que só se reduz a consequência com proteção. Não raras vezes essas medidas têm que ser impostas, muitas vezes a contragosto a funcionários que ainda acreditam que isso não é um problema deles, pois esse tipo de situações só acontece aos outros, sendo também que por vezes, muitos se refugiam nas prioridades operacionais como desculpa para manter os seus velhos hábitos e crenças.

A segurança rodoviária deverá ser uma preocupação transversal, do Estado, dos particulares e das empresas. No entanto estas últimas, terão também um papel de extrema importância a este nível, pois devem também cumprir o seu papel social de criar condições para a evolução pessoal e cultural, aumentando a consciência nos seus colaboradores por forma a minimizar este problema.

O que deve ficar subjacente, não só ao Estado mas a todos os setores da sociedade, é que qualquer morte na estrada é evitável e que o objetivo deve ser o de isso, naturalmente, não acontecer.

Um único morto na estrada já seria um número elevado, por isso, temos de exigir que não exista nem mais um morto na estrada.


Nuno Gomes

Formador e consultor na gestão da eficiência e segurança de condutores em frotas automóveis, é gerente da QI Formação e também formador especializado em condução de veículos pesados.